sexta-feira, novembro 22, 2024
Com Beto Carmona
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Lives NPC? Entenda sobre o fenômeno viral do TikTok que assusta pela bizarrice

Ultimamente se tornou viral no TikTok as chamadas Lives NPC, que nada mais é do que passar horas em frente às câmeras em um vídeo ao vivo na plataforma, repetindo gestos e barulhos bizarros em troca de presentes virtuais e dinheiro. A situação pode ser assustadora, mas virou uma verdadeira febre no TikTok nas últimas semanas e têm movimentado milhares de dólares diariamente, ao mesmo tempo em que levantam debates sobre os limites da exposição nas redes sociais.

NPC, que significa non playable character (personagem não jogável) foi inspirado no universo dos jogos. A ideia é imitar os comportamentos limitados desses personagens por horas, retribuindo a presentes virtuais — rosas, chocolate, pirulito, milho, entre outros — até que a exposição monetize o suficiente.

Apesar da origem da tendência ser incerta, especialistas acreditam que ela surgiu nos Estados Unidos, com a tiktoker PinkyDoll, e rapidamente se espalhou por outros países. Em entrevista ao The New York Times, a pioneira norte-americana contou ter faturado em uma única live US$ 4 mil, o equivalente a R$ 15 mil na cotação atual.

Obviamente, o sucesso da norte-americana chamou atenção e, dessa forma, tiktokers brasileiros também entraram na onda e multiplicaram a quantidade de vídeos como esse na plataforma coreana. Um dos adeptos foi Júnior Caldeirão, que fez questão de revelar o valor conquistado em uma única live e como o sistema de recompensas funciona.

“Cada moedinha enviada pelos internautas se converte em diamante para o criador e vale 0,01 centavos de dólar. Só que o TikTok fica com medade disso. Então, líquido, cada um vale 0,005 de dólar. É preciso multiplicar o número de diamantes por esse valor”, explicou em um vídeo, mostrando o resultado do cálculo: US$ 383 em uma hora, valor que convertido ao real dá R$ quase 1900.

“Na live passada eu fiz 41 mil diamantes, nessa live de ontem foram 76 mil. Isso aqui eu me ‘lascava’ o mês todo pra ganhar, dessa vez fiz em uma hora”, comemorou ele.

Mas pra quê essas lives?

Lucas Kalango, professor e consultor para negócios e criadores, explica que as lives NPC surgiram naturalmente, a partir da própria dinâmica do TikTok. “É uma comunidade que gosta de consumir lives, assim como dar presentes. Até porque é muito barato comprar esses presentes. O usuário pode comprar um pacote com dezenas de moedas por R$ 5 e distribuí-las entre os criadores de conteúdo (…). A pessoa compra esse entretenimento porque ela quer ver do NPC as reações que ele vai fazer de acordo com o presente que ele dá”, analisa o especialista.

De acordo com Kalango, apesar de estarem cada vez mais populares, o próprio TikTok já começou a limitar o alcance das transmissões. “O site também ganha com essas lives. São mais pessoas fazendo, assistindo e presenteando e o TikTok fica com uma porcentagem desse valor. Então, financeiramente, é algo bom para a rede social. Só que a nível de cultura da plataforma e do que eles querem promover não é interessante”, esclarece.

Na avaliação do psicólogo Leandro Marques as motivações dos adeptos às lives NPC, tanto de quem produz quanto de quem assiste, são variadas. “O ser humano gosta de ver o outro passar vergonha. Pegadinhas, lives NPC… É um conteúdo que engaja”, explica.

“Tem também a questão do controle. O personagem da live só fala o que as pessoas mandam. Se eu mando flor, ela fala flor, se eu mando gatinha, ela repete. Então a pessoa por trás da tela se sente no controle”, diz.

E a humilhação de se expor assim na tela? Para o psicólogo, o mercado de trabalho brasileiro pode ser muito pior. “A gente se humilha muito mais para patrão, para cliente, toma esculacho, escuta coisas horríveis. Aquilo ali para o trabalhador brasileiro não é nada. Além disso, o valor está acima da média do que pagam muitos empregos.”

Marques afirma que ainda é cedo para falar em impactos desse tipo de passatempo. “O que eu posso falar é o básico: sobre a exposição excessiva ao TikTok, a liberação de dopamina que leva a pessoa a ficar viciada, mas isso é algo geral e não acontece só com as lives”.

A opinião é compartilhada pelo psicólogo Vitor Friary. “Como todas as ferramentas de tecnologia, e de mídia social, os prejuizos que podem ser ocasionados precisam ser monitorados. É importante analisar se essas lives estão fazendo as pessoas se sentirem bem ou se estão desgastando sua saúde emocional de alguma maneira”, reflete.

“Outro ponto é estar atento ao tempo de tela utilizado para esse tipo de conteúdo online, e colocar limites para seu uso. O uso descontrolado de qualquer mídia social, podem aumentar ansiedade e sintomas de estresse e portanto devem ser utilizados com moderação”, observa o profissional de saúde.

Fonte: metropoles.com

Foto: Reprodução TikTok

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