A Polícia Federal (PF) indiciou, na sexta-feira (16), o ex-ministro da Justiça Anderson Torres e o ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques, além de quatro policiais federais, por suspeita de abusarem de suas funções para dificultar o deslocamento de eleitores no Nordeste durante o segundo turno das eleições de 2022.
De acordo com as investigações, Torres e Vasques, junto com os demais indiciados, teriam dado ordens ilegais para a PRF realizar operações que visavam restringir o trânsito de eleitores que apoiavam o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O segundo turno ocorreu em 30 de outubro de 2022, ocasião em que Lula venceu a disputa contra o então presidente Jair Bolsonaro (PL), que buscava a reeleição.
O relatório parcial da PF, enviado à Procuradoria Geral da República (PGR), indica que a decisão de indiciamento agora será analisada pela PGR. A procuradoria avaliará se há elementos suficientes para apresentar denúncia, requisitar mais investigações ou arquivar o caso. A PF pediu mais tempo para concluir a investigação.
Os quatro policiais federais indiciados, que também atuaram no Ministério da Justiça, são Alfredo de Souza Lima Coelho Carrijo, Fernando de Sousa Oliveira, Leo Garrido de Salles Meira e Marília Ferreira de Alencar. Eles são acusados de violação do artigo 359-P do Código Penal, que trata de violência política, por tentarem limitar o exercício dos direitos políticos de outros cidadãos.
As investigações apontam que as operações, realizadas na forma de blitze em estradas e rodovias do Nordeste, foram direcionadas para beneficiar Bolsonaro, dificultando o acesso de eleitores de Lula aos locais de votação. O efetivo da PRF no Nordeste foi significativamente maior do que em outras regiões no dia do segundo turno: 795 policiais no Nordeste, em comparação com 230 na Região Norte, 381 no Centro-Oeste, 418 no Sul e 528 na Região Sudeste.
O número de veículos parados pela fiscalização também foi desproporcional no Nordeste, com 2.185 ônibus parados, contra 310 no Norte, 571 no Sudeste, 632 no Sul e 893 no Centro-Oeste. A PF encontrou ainda no celular da ex-assessora de Anderson Torres, Marília Alencar, fotos que mostravam o mapeamento de municípios onde Lula teve alto índice de votos.
Na semana passada, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a soltura de Silvinei Vasques, que esteve preso por cerca de um ano devido às suspeitas. Moraes alegou que não havia mais justificativa para a prisão preventiva e determinou medidas alternativas, como uso de tornozeleira eletrônica e proibição de redes sociais.
Anderson Torres, por sua vez, esteve preso por quatro meses entre janeiro e maio deste ano, mas em relação aos atos golpistas de 8 de janeiro, quando estava na Secretaria de Segurança do Distrito Federal. A investigação do STF apura possível omissão na contenção dos atos.
A defesa de Silvinei Vasques afirmou que a conduta do cliente não se enquadra no tipo penal atribuído pela PF, e expressou confiança no arquivamento do caso pela PGR. As defesas de Anderson Torres e dos demais indiciados ainda não se manifestaram.
