A música “Borderline”, escrita por Maraisa e outros autores e ainda inédita oficialmente, provocou reação negativa antes mesmo de ser lançada. A prévia divulgada no fim de abril gerou críticas nas redes sociais por parte de psiquiatras e pacientes diagnosticados com Transtorno de Personalidade Borderline, que acusaram os versos de reforçar estigmas e banalizar a doença.
Trechos como “Você não é remédio de maluco” e “Corre senão você vai afundar junto” foram considerados ofensivos e estigmatizantes. Diante da repercussão, Maraisa apagou a publicação com a prévia da faixa. Procurada, sua assessoria informou que a artista não irá comentar o caso.
Segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), cerca de dois milhões de brasileiros vivem com o transtorno, caracterizado por instabilidade emocional, impulsividade, dificuldade nos relacionamentos e medo de abandono.
Não é a primeira vez que doenças mentais são citadas em letras de músicas populares. Versos sobre TDAH, bipolaridade e narcisismo também apareceram em composições recentes. Em alguns casos, os transtornos são usados para justificar comportamentos amorosos conturbados, o que também tem gerado controvérsia.
O presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Antonio Geraldo da Silva, alerta para os riscos do uso leviano de temas tão sensíveis. “É preciso ter respeito. Ninguém faria piada com câncer ou AIDS em uma música. Por que seria aceitável fazer isso com doenças mentais?”, questiona. Segundo ele, além de reforçar o estigma, esse tipo de abordagem pode afastar pacientes do tratamento.
Apesar das críticas, o psiquiatra se diz contrário ao cancelamento de artistas. “Precisamos educar e não linchar. Vamos conversar e convidar esses artistas para fazer parte de campanhas de conscientização.”
Entre os exemplos elogiados, Antônio cita a canção “Ela é Bipolar”, de Seu Jorge, que descreve o transtorno com respeito e traz informações corretas sobre a condição. Para ele, é possível e necessário falar sobre saúde mental na música — mas com responsabilidade.