Documentário sobre o músico que emocionou o país com a canção “Disparada” mostra a força de um artista simples e encantador
Por: Hugo Oliveira
Primeiramente, peço licença para adentrar ao palco da Rádio Costazul FM. Eis-me aqui: angrense, jornalista por formação e violonista e compositor do duo Feito Café. Pronto. Agora, devidamente acompanhado de minha parceira de crime radiofônico, Carla Machado, já estou pronto para pular na galera por meio do programa “Panorama 931”… E, quem sabe, escrever algumas palavras sobre assuntos que julgo importantes.
Começo com Jair Rodrigues. Longe de mim querer enquadrar um dos grandes nomes da música brasileira numa definição específica e, por isso mesmo, limitada. Mas, ao assistir ao documentário “Jair Rodrigues – Deixa que digam”, de Rubens Rewald, a impressão que tive foi a de que estava diante de um artista que respeitava seu público e, acima de tudo, amava-o; que sabia abordar questões sérias, mas que também plantava bananeira durante os shows.
Numa coisa, o mesmo modus operandi era motivo de encanto geral. A simplicidade de Jair, tanto ao se pronunciar quanto a defender suas canções, era seu grande trunfo. Ele era o porta-voz perfeito de um Brasil simplório e profundo: um homem de origem humilde, mas que se mostrava extremamente sábio e comunicativo, fosse numa conversa ou num cantar. Muito diferente de hoje em dia, quando todos querem mostrar que sabem tudo, utilizam quase sempre as mesmas expressões em voga e precisam assumir posicionamentos por vezes complexos na rapidez e no tamanho de um tweet.
Mesmo não sendo militante, Jair cantou letras que celebravam o orgulho e as tradições da cultura negra. Apesar de apolítico, brilhou no Festival de Música Popular Brasileira de 1966, organizado pela Record, onde defendeu “Disparada”, canção que comparava a exploração dos pobres pelos ricos com a das boiadas pelos boiadeiros. Ainda que soasse inofensivo à época, “Deixa isso pra lá”, um de seus clássicos, acendeu o sinal vermelho da moral e dos bons costumes, além de lançar as bases para o estilo musical que depois seria conhecido como rap.
Jair faleceu em 8 de maio de 2014, aos 75 anos, por conta de um infarto agudo do miocárdio. Apesar de ter marcado seu nome na MPB e de ser venerado por parte da cena rapper brasileira, seu trabalho corre o risco de não chegar às gerações mais novas. Humildemente, faço minha parte, escrevendo este texto tão básico sobre ele e divulgando seu documentário, que está sendo exibido em primeira mão, on-line e gratuitamente, pelo Festival Internacional do Documentário Musical (In-Edit Brasil).
Acesse o site, faça sua inscrição na plataforma dele, assista ao filme e, se gostar, passe à frente a indicação de “Jair Rodrigues – Deixa que digam”. Fortalecer as raízes da música brasileira nunca foi tão fácil. E prazeroso.
* Hugo Oliveira é bacharel em Comunicação Social, pós-graduado em Jornalismo Cultural, e músico do duo Feito Café.