A demora na restauração da energia elétrica após o apagão que atingiu São Paulo na última sexta-feira (11) revelaria falhas graves no modelo de privatização do setor de distribuição de energia no Brasil. Especialistas consultados pela Agência Brasil afirmam que o cenário reflete a falta de planejamento da concessionária Enel e a ineficiência da gestão pública municipal.
O engenheiro eletricista Ikaro Chaves critica o modelo de privatização adotado há quase três décadas, afirmando que a deterioração da qualidade do serviço é evidente. “Já se passaram quase 30 anos desde a privatização da primeira distribuidora, e está mais do que provado que esse modelo não tem funcionado”, argumenta. Segundo Chaves, a natureza monopolista do setor elétrico impossibilita que a concorrência beneficie o consumidor, e a regulação estatal tem sido insuficiente para garantir um serviço de qualidade.
Chaves também destaca o impacto da redução de pessoal nas empresas concessionárias. De acordo com o Sindicato dos Eletricitários de São Paulo, a Enel desligou 227 empregados da área de manutenção nos últimos seis meses, prejudicando o tempo de resposta a incidentes como o apagão. “Esse modelo de privatização leva à precarização do trabalho. A manutenção preventiva, essencial para evitar problemas como o que estamos vivendo, é feita por pessoas, e elas estão sendo cortadas”, acrescenta.
O professor José Aquiles Baesso Grimoni, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, atribui parte da demora na recomposição da rede elétrica à falta de coordenação entre a concessionária e a prefeitura. Ele aponta falhas no comitê de crise da cidade, que não atuou de forma eficiente para remover obstáculos, como árvores caídas sobre a rede elétrica, e agilizar a restauração da energia.
Para Grimoni, a solução definitiva para as recorrentes quedas de energia em São Paulo seria o enterramento da rede elétrica, um projeto que demandaria investimentos conjuntos dos governos municipal, estadual e federal. Contudo, ele alerta para os desafios políticos e econômicos dessa medida, devido ao alto custo e à falta de visibilidade pública. “Enterrar a rede elétrica não gera votos. O problema não é técnico, é político e econômico”, conclui.