A Viradouro é a campeã do Carnaval do Rio em 2024. Nota 10 em todos os quesitos, a escola de Niterói conquistou o título com pontuação máxima de 270 pontos. O carnavalesco, Tarcísio Zanon, levou para a avenida as raízes negras, femininas e religiosas, inspirado numa história do século XVIII, que aconteceu na costa ocidental da África.
O samba enredo “Arroboboi, Dangbé” conta a história das guerreiras Mino, do reino Daomé, atual Benin. Em meio às batalhas na região, do qual são protagonistas, elas são iniciadas espiritualmente pelas sacerdotisas voduns, uma dinastia de mulheres escolhidas por Dangbé. É dessa forma que nasce o culto à serpente vodum, que se dissemina pelo reino. E que chega depois ao Brasil, em terreiros na Bahia, sob a liderança da sacerdotisa daomeana Ludovina Pessoa, que espalhou a fé nos voduns pelo território. Por isso, também resgata uma parte importante da cultura e da sociedade brasileira.
“O desfile das escolas de samba é um momento muito importante para as religiões de matriz africana. É quando se mostra com dignidade todo o esplendor das relações sociais, culturais e espirituais das nossas tradições. Vencer o carnaval com esse enredo é uma grande contribuição para a luta contra a intolerância religiosa no Brasil e para a defesa das tradições que tanto contribuem para a nossa identidade cultural”, explicou o Babalaorixá Ivanir dos Santos, professor no Programa de Pós-graduação em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGHC/UFRJ).