sexta-feira, março 29, 2024
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The Smiths e os 35 anos de “The Queen is Dead”

* Por Hugo Oliveira

Comandado pelo meu grande amigo Rodrigo Camacho, o programa On The Rocks Costazul tem um quadro intitulado “Sugestão da Equipe”. Nele, alguém que trabalha na rádio pede uma canção e diz o porquê de ter efetuado a escolha. Como mais novo membro do time, fui o selecionado da vez, e pedi para ouvir uma versão de “Some Girls Are Bigger Than Others”, canção original do The Smiths lançada no disco “The Queen is Dead”.

O álbum em questão veio ao mundo em 1986. Acabou de fazer 35 anos de vida em junho de 2021. Não se trata apenas do trabalho mais importante do quarteto britânico comandado por Morrissey – voz e letras – e Johnny Marr – guitarras e composições –, mas sim, de um dos discos mais especiais do rock mundial, numa época em que o estilo ainda era a bola da vez das rádios.

Os Smiths já eram incensados pela imprensa desde o início, em 1982. Nascido em Manchester, o grupo, que ainda contava com o baixo marcante de Andy Rourke e a bateria simples e eficiente de Mike Joyce, viu-se rapidamente nos holofotes da mídia musical, principalmente da britânica. E o interesse ia além da música: o jeito excêntrico e politicamente incorreto de Morrissey, o orgulho “indie” da banda, a aversão a videoclipes, tudo isso era um prato cheio para bons e maus jornalistas. E toma-lhe fartura de declarações polêmicas e manchetes capciosas, para o bem e, na maioria das vezes, para o mal.

Aparentemente alheio a tudo isso, o poderio musical do quarteto ia crescendo ao longo de singles e álbuns, culminando com uma obra-prima do rock pop, herdeira direta da urgência do punk, da androginia do glam e da beleza bittersweet de girl groups obscuros dos anos 60. Um caldeirão que, na teoria, poderia até soar indigesto, mas, na prática, descia de forma deliciosa, harmonizando perfeitamente com a gula de milhões de adolescentes tímidos, antissociais e sem representação no mainstream.

“The Queen is Dead” abre com a própria faixa-título, uma porrada direta na monarquia britânica. Segue brilhante e triste com “I Know it’s Over”, um hino ao fundo do poço. No meio, oferece uma dobradinha radiofônica e vibrante, com “Bigmouth Strikes Again” e “The Boy With The Thorn in His Side”. Pouco antes de terminar, brinda o ouvinte com aquela que provavelmente é a “quase balada” mais bonita dos anos 80, “There Is a Light That Never Goes Out”, uma música atemporal, sobre a honra e o privilégio de morrer ao lado de quem se ama.

Ok, eu sei que, de uns 15 anos para cá, tudo mudou. As novas gerações, mais saudáveis, estilosas, otimistas, marqueteiras e digitalmente onipresentes, têm seu valor, claro. A quantidade de artistas e canções à disposição é imensa, e está a um clique de nossos ouvidos. Ainda assim, sinto saudade dessa ambição pop ingênua e fora de moda de “The Queen is Dead” e de bandas como o The Smiths.

De qualquer jeito, deixa pra lá: esse lance de música para mudar o mundo, destruir o sistema ou ajudar na transformação interior, mesmo que de leve, é coisa de cringe. A obra-prima de Morrissey e Marr passou dos 35, e o autor deste texto completou 43 recentemente. Envelhecemos.

Felizmente, alguns, como bons vinhos, melhoraram. Longa vida à morte da rainha.

Hugo Oliveira é jornalista por formação, pós-graduado em jornalismo cultural e violonista e compositor do duo Feito Café

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